“Sim, ela foi assassinada na Amazônia brasileira, violada, e teve seu corpo cruelmente incendiado em vida. Mulher, palhaça, artista venezuelana. Pessoa livre a rodar a América Latina em sua bicicleta, confiando no bom senso e na bondade do ser humano. Não mais. E por quê? Por ser mulher”, começa a legenda da publicação compartilhada pelo cantor e compositor Chico César, neste domingo. Na foto, Julieta Martínez, cujo corpo foi encontrado nesta sexta-feira, a 117 quilômetros de Manaus, aparece caracterizada como palhaça com os dizeres “Para sempre #Julietapresente”. Ela estava desaparecida desde o dia 23 de dezembro.
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“A cultura do feminicídio é isso, nossa cultura. Vejo nela muitas amigas minhas, pessoas que amo e admiro, cruzo pelo mundo. Mas não sei como proteger nesse mundo hostil a liberdade das mulheres. Até sempre, Julieta”, termina o texto, que foi compartilhado pela jornalista e apresentadora Renata Ceribelli. “Quanto ódio…e a menina, uma artista circense vivia viajando em sua bicicleta só para levar alegria para as crianças e adultos”, completou Renata.
A jornalista e comentarista esportiva Ana Thaís Matos comentou: “É desesperador ser mulher no Brasil”. “É assustador demais”, pontuou a escritora Cris Pàz (ex-Guerra). “Arrasada com essa história”, disse a roterista Renata Corrêa.
A cantora Luiza Possi disse: “Que tristeza”. Para o estilista Ronaldo Fraga, o momento é de uma “dor profunda e sem fim”. “Uma dor e muita revolta! Ser mulher nesse país é viver todo tempo na mira e se sentir preza fácil pra todo tipo de violência! Jujuba uma mulher livre, vivendo seu sonho, sem pedir nada a ninguém, só emanava amor, arte e muito amor por onde passava… Nós morremos todas um pouco com ela”, comentou a cantora Riáh.
‘Este crime ocorreu por crueldade’
Migrante, nômade, palhaça, bonequeira e cicloviajante. É desta forma que Julieta se definia nas redes sociais. A artista, de 38 anos, chegou ao Brasil em 2015. Ela compartilhava registros de suas viagens e um pouco do seu trabalho como palhaça.
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— Julieta era uma atriz incrível e uma palhaça inteligente. Ela foi uma militante feminista e viajava pelo país desde 2015 levando sua arte. Nunca vi ela ser violenta com ninguém. Este crime ocorreu por crueldade — afirmou ao GLOBO Luciana Serpa, amiga da venezuelana desde 2016.
No início do mês de dezembro, a venezuelana publicou nas redes sociais que estava a caminho de Manaus, capital do Amazonas. Julieta fez apresentações e conheceu a cidade durante o período. Amigos da artista afirmaram ao GLOBO que ela pedalava em direção à casa da mãe, na Venezuela, quando desapareceu.
— Como pode uma mulher feminista achar que pode rodar o Brasil todo em uma bicicleta? Ela foi morta porque era forte, corajosa e justa — disse Serpa.
Julieta fazia parte do grupo de cicloviajantes “Pé Vermêi”. Entre os dias 22 e 23 de dezembro, a artista disse que passava por Presidente Figueiredo, no interior do estado. Essa foi a última vez que os membros da comunidade tiveram informações sobre a venezuelana.
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Em sua última publicação, Julieta gravou um vídeo fazendo uma brincadeira com as sílabas da palavra “gratidão”, enquanto mostrava as etapas do processo de montagem de sua bicicleta. Na legenda do post, ela comenta sobre o trabalho de montar o equipamento de viagem e agradece a uma amiga pela estadia.
Um casal foi preso pela Polícia Civil suspeito de envolvimento no crime. Em nota, a Polícia Civil afirmou que os policiais localizaram inicialmente partes da bicicleta que Julieta Hernández utilizava. Segundo as autoridades, o equipamento estava perto de onde o corpo foi localizado. O local é próximo de um refúgio onde a mulher estava hospedada. A corporação esclareceu ainda que os suspeitos passarão por oitivas na delegacia local.